Vou começar este blog pelo fim, ou seja, pela técnica mais difícil que é o downwind. Faço-o porque neste momento acho que é a informação que mais falta faz ao pessoal que anda de surfski em Portugal. Muitos vêm do K1 (pista e maratonas) e ainda não “percebem o mar”. Este post é uma compilação de 2 artigos escritos por Dale Peppstreus, um sul-africano que fez duas vezes o percurso da Miller’s Run (12 km) de SS-2 com o Oscar Chalupsky. Acho que ele conseguiu escrever bem aquilo que muitos de nós sentimos e fazemos mas não conseguimos transmitir por palavras. Os parágrafos a azul são do 2º artigo.
Espero que este artigo vos ajude a entender a técnica e a tornar-vos mais rápidos.
PREPARATIVOS
Os pedais do leme inclinados para a frente, alinhados com a base do finca-pés e não na vertical. Já tinha tentado isto antes mas acontecia-me por vezes ter de esticar o pé para conseguir dar leme o suficiente.
O Óscar explicou-me que o truque é dar sempre pouco leme. É melhor nos habituarmos a esta afinação dos pedais porque há uma vantagem que é o menor desgaste do material por existir menos movimento do leme devido à rotação do tronco e ao trabalho de pernas.
3 MANEIRAS DE DESCER AS ONDAS:
- Manter uma remada constante e descontraída
- Fazer sprints ocasionais quando estamos a apanhar uma onda ou entre ondas
- Pagaia em baixo entre ondas
Todos fazemos isto mas a forma como o Óscar (Chalupsky) faz é impressionante. 1. Não gosta de perseguir muitas ondas. Deixa muitas passar porque há sempre outra atrás e é preferível esperar por uma onda melhor. 2. Assim que entra na onda pára logo de remar. O truque é manter-nos na crista da onda porque guardas energia potencial que a podes aplicar se precisares. Evita também que a frente do barco afunde e a consequente perda de energia.
CRUZAR A ONDA
Assim que entra na onda começa logo a cruzá-la. A explicação para isso é que o surfski ao cruzar a onda ganha muito mais velocidade (e consequentemente mais energia cinética) que podes aproveitar se necessário. O truque é utilizar essa energia para fazer a ligação entre ondas e aí entra a nossa capacidade de perceber o mar.
O objectivo é apontar a frente do sufski para as aberturas (as cavas) entre as ondas e tentar perceber e antecipar onde esses buracos se vão formar. Muitas vezes as ondas têm aberturas entre elas que provocam altos e baixos nas ondas e o truque é aproveitar isso para fazer a ligação entre as ondas. Para fazer isto com eficácia o surfski tem de estar na crista da onda e ter velocidade suficiente para podermos dar leme.
Quando mantinha o surfski alinhado com as ondas tinha muita dificuldade em ir para um dos lados quando a onda terminava e eu ficava encalhado na parte de trás de outra onda (não conseguia passar da cava para a crista). Agora ando constantemente de um lado para o outro nas ondas e se as ondas estiverem na mesma direcção da chegada eu simplesmente surfo para a esquerda e para a direita. Descer as ondas a cruzar, dando um ângulo em relação à onda faz com o barco ganhe muito mais velocidade e se tenha mais controlo sobre o leme e muito importante permite que consigas explorar essa velocidade quando as ondas mudam de forma ou de direcção. Agora passo mais tempo com a pagaia em baixo a olhar para as ondas e a dar muito mais leme.
SAIR DA ONDA
Na maior parte das vezes tentamos manter-nos na onda o mais tempo possível o que se traduz em remar em frente com muita força. Por vezes resulta mas muitas vezes ficamos encalhados na parte de trás de uma onda com o barco a encher de água.
O truque é não fazer nenhuma tentativa para nos mantermos na onda e continuar a cruzar a onda até sairmos. Isto é completamente contra-intuitivo mas faz com que não fiquemos encalhados nas costas de uma onda e fiquemos numa melhor posição para apanhar a onda seguinte. Manter a velocidade do surfski é a chave para se conseguir fazer um bom downwind e para manter a velocidade do barco temos de aprender a fazer a transição ou passagem entre ondas sem que fiquemos encalhados nas costas das ondas.
A maneira como saímos das ondas é um dos aspectos mais importantes quando fazemos downwind. Se seguirmos a direcção das ondas o que vai acontecer é vamos ficar encalhados nas costas da onda da frente ou pior vamos ficar encalhados com o barco cheio de água. Para sair dessa situação tens de remar com muita força para voltar a aumentar a velocidade do barco e gastar muita energia para apanhar a onda que vem de trás. O truque que descobri é cruzar a onda na direcção onde se está a formar outra onda e apontar para o buraco atrás da crista da onda. Se o fizeres no momento certo vais entrar com bastante velocidade e evitar gastar energia ao passar de uma onda para outra.
A minha sugestão de que a forma com devemos sair das ondas é um dos aspectos mais importantes de remar é tão estranha que eu me sinto na obrigação que esclarecer bem este ponto. Claramente não podes sair de uma onda sem antes entrar nela por isso pode parecer que estou a “pôr a carroça à frente dos bois”. O meu ponto de vista é o de que apanhar ondas tem tudo a ver com velocidade e aceleração. Quanto melhor atleta fores mais depressa vais e mais facilmente passas de um intervalo entre ondas para outro. Tem tudo o ver com preparação, técnica e estabilidade. Estes são os 3 parâmetros e a minha opinião anda à volta disto: “que técnica posso usar para maximizar a minha capacidade de downwind dentro deste parâmetros”.
A minha resposta é que podemos sair das ondas utilizando muito menos energia se conseguirmos gerir bem a transição entre ondas. O meu ponto de vista é o de que fazer a transição de uma onda para outra não é apenas utilizar a velocidade do barco para passar de onda em onda mas também utilizar a velocidade do barco para nos posicionar-mos onde a onda se está a formar. Resumindo, o truque é não nos colocarmos em posição de descer toda a crista da onda até à cava porque não vamos conseguir passar a onda que está à frente mas, colocarmo-nos por trás da onda que se está a formar com uma boa velocidade. Na maior parte das vezes a única forma de fazer isto é cruzando a onda e o truque é chegarmos onde a onda se forma logo no início quando ela se está a desenvolver.
INSTRUÇÕES
As únicas instruções são “momento” e “ir com calma”. Não há uma boa explicação para isto a não ser o facto de te deixar em posição de aplicar a força quando necessário.
SER MAIS SELECTIVO.
Não temos de dar tudo por tudo para nos mantermos numa onda. É preferível conservar a nossa energia do que a gastar a tentar passar a onda da frente. Podemos falhar algumas ondas mas é preferível apanhar uma que nos leve mais além do que as que perdemos.
CONCLUSÕES
1. Ao apanhar as ondas começamos a remar antes da onda chegar e paramos assim que entramos na onda.
2. Assim que estiveres na onda começa a cortar para o lado para aumentar a velocidade.
3. Mantém o surfski na crista da onda e evita apontar o barco para o buraco (cava) e descer a onda toda. Só fazes isso quando precisares dessa velocidade para passar para outra onda.
4. Olha sempre para a frente e para os lados (45 graus) para veres outras ondas e aberturas entre elas. Especial atenção na possibilidade criada pelas aberturas laterais e utiliza os altos (cristas) e baixos (cavas) para atravessar.
5. Quando a onda começa a perder energia ou a levantar à tua frente utiliza a energia que tens para ires para o lado e viras o surfski na direcção da próxima onda apenas quando a crista à tua frente desaparecer.
6. Mantém a velocidade do surfski remando de forma suave e constante entre as ondas.
7. Tem paciência. Há sempre mais ondas a passar e se não for do teu agrado tens sempre mais a vir.